Meu último sopro



A vida é um sopro, já diziam.
Um sopro leve, que dói quando você não está bem aquecido como deveria.
A vida é uma corrida entre as montanhas com seus altos e baixos...

Você se apaixona, se desapaixona
Mas entre todos esses amores, há sempre algo que fica.
Aquele primeiro beijo roubado e tímido
Aqueles olhares tão quentes que não cabiam para um primeiro encontro
Os sorrisos constantes
As mãos que tremiam
As pernas que balançavam
O corpo que suava

A vida é um sopro, entre ser entre estar
Entre ir e vir, entre ficar...
Decisões que são sempre as piores a tomar
A vida é um sopro
E você segurou minhas mãos, meus olhos, você até segurou com os lábios nossas conversas ao pé do ouvido.

A vida é um sopro, por isso eu encostei em seu ombro, nada lá fora existia
Eu não decorei nossas conversas, mas decorei nossos toques, suaves e eternos.
Eu tinha de ir embora, o sopro da vida me levando, mas minhas pernas tão confortáveis sobre as tuas, foi meu ninho.

A vida é um sopro que corta suas asas, que não te permite ficar.
É como se fosse uma novela, com final para acabar.

Eu vou andando no caminho do sopro, do vento, subindo as montanhas com meus passos tímidos, cansados, ofegantes, delirantes.
Tenho o sopro comigo, tenho tuas palavras no ouvido.
Eu não quero escutar
Eu não quero sentir
Eu só quero caminhar entre as montanhas.

Esperando meu pote de ouro, esperando a paz que dizem existir.
Não me detenham
O sopro me leva cada vez mais longe
Seus braços eram tão quentes e frios

Mas estou no topo, no topo. A vida é um sopro, eu não posso mais ver, eu não posso mais querer. A vida é um sopro que me empurrou.

E eu cai, de braços e pernas amarradas.
A vida é um sopro, que não permite milagres.
 A vida é um sopro e eu não sei voar.

Elen Abreu

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