De volta para casa e uma saudade que nao adormece nunca



Você disse que eu sou louca enquanto eu calçava meus coturnos e procurava minha meia perdida.
Eu devo ser mesmo, peguei um avião e depois um ônibus e deitei nos braços de um cara que eu nunca vi.

Eu sou louca, tenho certeza disso. Muito louca. Eu quis acreditar no que ninguém mais acredita, eu quis fazer o que ninguém mais faz.

Enquanto você estava no trabalho preocupado  se eu tocaria fogo no apartamento ou não, te escrevi um poema, nossa eu não deveria ter escrito, vocês não gostam de poemas, vocês precisam que as garotas não queiram vocês pra vocês quererem a gente.

Mas já estava tão óbvio que eu te queria, que poema não faria mal.
Eu odeio minha letra
Eu odeio muitas vezes o que escrevo

Gastei uma árvore quase inteira pra achar a melhor letra e te dizer pouca coisa, mas queria dizer mais.
Eu sou louca e você prepara nosso café da manhã. Você fez uma geleia incrível, nossa era tão boa. Adorava olhar sua cueca azul, suas tatuagens minha faziam delirar, enquanto eu falava da minha vida e você não queria ajuda na cozinha.

Você tinha de trabalhar. Eu tinha de pegar o ônibus e partir pra nunca mais voltar. (Mas eu queria)
Minha boca ainda cheirava a vinho e meu corpo tinha seu cheiro. Foi extremamente difícil largar o travesseiro.

Eu reclamei da marcas que você deixou. Mas que culpa a gente tinha se foi tão intenso nosso amor?
Eu o perdôo com beijos, com abraços...eu já te perdoei até antes mesmo antes de você pedir perdão.
Temos de ir... fotógrafo mais uma vez na memória seu apartamento, seu jeito, seu pêlos, seu sorriso, a roupa que usava, as coisas que falava.

Era tão extraordinário te ver sorrir, era como se eu sorrisse também, e de certa forma algo em mim estava feliz.

O caminho para casa é tão difícil.
Nossa, dessa vez eu largava tudo, eu não pensaria uma vez. Eu estava com homem da minha vida, o cara que sempre sonhei.

Eu não queria descer do carro, eu não queria comprar a passagem.
Nos beijamos e dizemos adeus.

Algo no fundo me dizia que era o fim, porque mais um vez eu me entreguei demais.
Eu quis chorar no ônibus. Segurei as lágrimas e escutei as músicas que ouvíamos enquanto você preparava uma pizza, lembro que ajudei jogando azeitonas por cima.

A gente adorava azeitonas, talvez tenha sido a pizza com mais azeitonas do universo. A gente adorava vinho também e usou para acompanhar a pizza, a gente adorava cerveja então bebeu também, e depois uma bebida forte que não lembro. A gente adorava rock também, eu os mais fracos e você os mais pesados, mas a gente adorava tanta coisa em comum que eu ficava extasiada enquanto Kurt Cobain tocava e você me beijava.

Eu disse que não queria ficar bêbada, que minhas ressacas eram terríveis. Mas  na verdade, ao lado dele eu não precisava de bebidas, comidas ou algo do tipo. Eu só precisava dele olhando para mim, sempre prestativo, sempre ele, sempre extremamente lindo.

Eu não sei por que raios eu quis escutar Alana Del Rey, talvez por ser mórbida e sexy ao mesmo tempo. Você deve ter odiado eu sei. Mas a altura que estávamos a musica era o que menos importava.
Meu sono foi conturbado, eu sempre sofrendo por antecipação. Você acordou e mais uma vez escovou os dentes para dá bom dia. Eu pouco me importava com isso, eu só queria que a gente morasse naquela cama eternamente.

O ônibus chegou ao destino, eu queria voltar correndo. Depois o avião estava nas nuvens, eu morro de medo de andar de avião e você também, mais alguma coisa em comum.
Socorro. Se o avião caísse aquela noite você era tudo que eu pensava.

Eu estava completamente fodida e perdidamente apaixonada.

Elen Abreu

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